Perto do Coração Selvagem

sexta-feira, 13 de maio de 2011
Boa tarde blogueiros.
Hoje algo estranho aconteceu.
Meu blog ficou fora do ar o dia todo. Travado. E o último post foi excluído pelo Blogger, assim como os comentários, sei lá por que cargas d'água. Tá tudo em pane. Fiquei temerosa. Entro em pânico só de pensar na possibilidade de perder tudo o que tenho aqui. Estranho. Muito estranho.

(Sexta-feira 13???? Será?! Não, não, não! Nada de superstição! Saaaaaaaai pra lá tudo de ruim!).

Acabo de escrever esse parágrafo e me surpreendo. Comecei a ler "Perto do Coração Selvagem" da maravilhosa Clarice Lispector (eu? fã em absoluto!) e vejo o quanto tal leitura me influencia. Influencia meu pensamento, meu humor e meu jeito de escrever. Bom bom bom.

E é refletindo sobre o que tenho lido que quero compartilhar com vcs um trecho do livro, bem conhecido. Espero que gostem.


"Olho por essa janela e a única verdade, a verdade que eu não poderia dizer àquele homem, abordando-o, sem que ele fugisse de mim, a única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais. Lembro-me de um estudo cromático de Bach e perco a inteligência. Ele é frio e puro como gelo, no entanto pode-se dormir sobre ele. Perco a consciência, mas não importa, encontro a maior serenidade na alucinação.

É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Ou pelo menos o que me faz agir não é o que eu sinto mas o que eu digo. Sinto quem sou e a impressão está alojada na parte alta do cérebro, nos lábios — na língua principalmente —, na superfície dos braços e também correndo dentro, bem dentro do meu corpo, mas onde, onde mesmo, eu não sei dizer. O gosto é cinzento, um pouco avermelhado, nos pedaços velhos um pouco azulado, e move-se como gelatina, vagarosamente.

Às vezes torna-se agudo e me fere, chocando-se comigo. Muito bem, agora pensar em céu azul, por exemplo. Mas sobretudo donde vem essa certeza de estar vivendo? Não, não
passo bem. Pois ninguém se faz essas perguntas e eu... Mas é que basta silenciar para só enxergar, abaixo de todas as realidades, a única irredutível, a da existência. E abaixo de todas as dúvidas — o estudo cromático — sei que tudo é perfeito, porque seguiu de escala a escala o caminho fatal em relação a si mesmo. Nada escapa à perfeição das coisas, é essa a história de tudo.

(...) Mas estou cansada, apesar de minha alegria de hoje, alegria que não se sabe de onde vem, como a da manhãzinha de verão. Estou cansada, agora agudamente! Vamos chorar juntos, baixinho. Por ter sofrido e continuar tão docemente. A dor cansada numa lágrima simplificada. Mas agora já é desejo de poesia, isso eu confesso, Deus."


Bjo, bjo e uma sexta-feira 13 repleta de coisas boas!!!!

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