Comer, rezar, amar

terça-feira, 3 de janeiro de 2012
“Tenho um histórico de tomar decisões muito rápidas em relação aos homens. Sempre me apaixonei depressa e sem avaliar os riscos. Tenho tendência não somente a ver apenas o que há de melhor nas pessoas, mas a partir do princípio de que todo mundo é emocionalmente capaz de alcançar o potencial máximo. Já me apaixonei pelo potencial máximo de um homem mais vezes do que consigo enumerar, em vez de me apaixonar pelo homem em si, e em seguida agarrei-me ao relacionamento durante muito tempo (algumas vezes, tempo demais), esperando que o homem chegasse à altura de sua própria grandeza. Muitas vezes, no amor, fui vítima do meu próprio otimismo. Casei-me jovem e depressa, cheia de amor e esperança, mas sem conversar muito sobre o que significariam as realidades do casamento. Ninguém me deu conselhos sobre meu casamento. Meus pais haviam me criado para ser independente, auto-suficiente, para tomar as minhas próprias decisões. Quando cheguei aos 24 anos, todos partiam do princípio de que eu era capaz de fazer minhas próprias escolhas de forma autônoma. E claro que o mundo nem sempre foi assim, Se eu houvesse nascido durante qualquer outro século do patriarcado ocidental, teria sido considerada propriedade do meu pai, até que ele me entregasse ao meu marido para que eu me tomasse propriedade sua pelo casamento. Eu teria rido muito pouca coisa a dizer sobre as grandes questões da minha vida. Em outro período da história, caso um homem houvesse se interessado por mim, meu pai poderia ter se sentado com esse homem e desfiado uma longa lista de perguntas para verificar se aquela seria uma união adequada. Ele teria perguntado: "Como você vai sustentar a minha filha? Qual a sua reputação nesta comunidade? Quais são as suas dívidas e bens? Quais são os pontos fones do seu caráter?" Meu pai não teria simplesmente deixado eu me casar com qualquer um pelo simples fato de eu estar apaixonada pelo sujeito. Na vida moderna, porém, quando tomei a decisão de me casar, meu moderno pai não se intrometeu em nada. Ele não teria interferido nessa decisão, da mesma forma como não teria me dito que penteado usar. Acreditem em mim: não tenho nenhuma nostalgia do patriarcado. Mas o que passei a perceber foi que, quando o sistema do patriarcado foi (felizmente) desmantelado, ele não foi necessariamente substituído por outra forma de proteção. O que quero dizer é o seguinte: nunca me passou pela cabeça fazer a um pretendente as mesmas perguntas difíceis que meu pai poderia ter-lhe feito, em uma época diferente. Eu me entreguei ao
 amor muitas vezes, unicamente em nome do amor. E algumas vezes, ao fazer isso, entreguei também tudo que eu tinha. Se eu quiser realmente me tornar uma mulher autônoma, então preciso assumir esse papel de ser minha própria protetora. Em uma frase famosa, Gloria Steinem certa vez aconselhou às mulheres que elas deveriam se transformar nos homens com quem gostariam de se casar. O que só percebi recentemente foi que não apenas eu preciso me transformar no meu próprio marido, mas preciso me transformar também no meu próprio pai. E é por isso que, nessa noite, fui para a cama sozinha. Porque sentia que ainda não estava na hora de eu aceitar um pretendente.”

"Comer, rezar, amar" de Elizabeth Gilbert.

O texto dispensa cometários.

Como eu tô adorando esse livro!

Bjo, bjo blogueiros!

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